Estamos vivenciando através da mídias, no Rio Grande do Sul, a um evento traumático, do ponto de vista psicológico, e uma grande maioria de pessoas se comove, quer ajudar, mas muitas vezes não sabe como fazer na questão emocional, gerando muitas duvidas em o que falar e o que fazer.
Ter contato com evento traumático pode se dar de duas formas: primeiro é experienciar diretamente o evento, estar lá no local. E a segunda forma é testemunhar eventos que ocorreram com outras pessoas.
Uma das piores coisa é ser exposto de maneira repetitiva a detalhes, por isso existem coisas que não devemos fazer, como: compartilhar fotos, vídeos, relatos, encaminhar áudios. Esse comportamento só aumenta o sofrimento psicológico, e vai servir, nada mais do que satisfazer uma curiosidade mórbida.
Quando experiencia-se diretamente uma situação traumática, é extremamente normal e esperado que as pessoas apresentem alguns sintomas como ansiedade extrema, estado de choque, medo, raiva, choro compulsivo, tristeza, dificuldades de tomar decisões, dificuldade de memorização e atenção, confusão mental, exaustão, isolamento, checagem de segurança, dificuldade para cuidar dos filhos. Esses comportamentos/sintomas, são normais, no primeiro mês após um evento traumático, e 90% das pessoas vão sentir tudo isso.
Após um período de aproximadamente um mês, essas reações vão diminuindo aos poucos, naturalmente sem precisar de terapia. Poucas pessoas vão se estender os sintomas, e outras ainda podem manifestar tardiamente. Quando se excede ou aparece de forma tardia, podemos pensar em um transtorno do stress pós traumático; que é um transtorno mental com basicamente sintomas de: ver imagens da tragédia, ter sonhos repetidos, pesadelos, flech beck, lembranças, evitação de coisas que faça lembrar, alterações de pensamentos, humor deprimido e comportamentos reativos.
Como pode fazer os Primeiros Socorros Psicológicos, e o que não fazer:
- Não é terapia e pode ser feito por qualquer pessoa, desde que se sinta bem emocionalmente e que seja treinada, que sabe o que fazer, e o que falar. Primeiro socorros precisa ser feito pessoalmente, e se você deseja fazer a distância, doe o que puder, como fazer pix ou encaminhar mantimentos.
- Fazer uma escuta não evasiva, sem pressionar a pessoa a falar. Se ela por sua própria vontade falar, só ouça com atenção, demonstrando que a entende.
- Confortá-la, acalmá-la, e entender o que ela precisa naquele momento.
- Não pedir para a pessoa falar sobre o que aconteceu, nem pedir para falar o que viu. ( Pesquisam mostram hoje que, pedir para relatar e falar detalhes, só piora, e ainda aumenta as chances de desenvolver o transtorno do stress pós traumático).
- Entender se realmente essa pessoa quer ajuda, respeitando seu desejo de forma respeitosa. Falar menos e ouvir mais.
- Não minimizar o sofrimento da pessoa com esses tipos de frases:
* não chore
* Você tem que ser forte.
* Você perdeu bens materiais, o mais importante é sua vida
* Vai dar tudo certo ( Você não tem bola de cristal, nem garantias de nada)
* Você é abençoado e teve sorte em estar vivo
* Não fale dos seus problemas ou dê falsas esperanças/ garantias, informe somente o que tem certeza.
E para finalizar, é muito importante que você saiba que não só vivenciar um evento traumático, mas, ver e acompanhar exageradamente notícias desses eventos, também pode gerar muito sofrimento psicológico. Evite ouvir áudios, ver imagens, notícias em excesso, como forma de satisfazer curiosidade. Veja apenas uma atualização do que está acontecendo apenas para se manter atualizado da situação.
Fonte: JAN LUIS LEONARDI - PSICÓLOGO - Doutor em Psicologia clínica baseada em evidencias.