As chuvas torrenciais no Rio Grande do Sul afetaram metade dos produtores de leite do estado, intensificando um declínio no setor já perceptível há anos. Segundo Marcos Tang, presidente da Associação dos Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul, a situação já era crítica antes do desastre. "O gaúcho está parando a galope de produzir leite. São três anos seguidos de dificuldade com o clima. O produtor já estava sem lucro, desanimado, depressivo. Com essa tragédia, vamos ter que reconstruir a parte financeira e também a parte psicológica dos produtores," afirma. Fernando Marin, um produtor de Cotiporã, relata que nunca enfrentou problemas tão graves em seus 20 anos de atividade. "Penso que vou tocar mais um ano e parar com o leite," diz ele. Atualmente, o estado conta com 32 mil propriedades produtoras de leite, uma redução drástica em relação às 80 mil de dez anos atrás.
As inundações, que começaram em 27 de abril, bloquearam estradas e danificaram mais de 50 pontes, complicando a logística de coleta de leite e outros insumos. A indústria leiteira do estado, já pressionada pelo aumento de custos, sofreu uma queda de 30% na captação de leite, de acordo com Guilherme Portella, presidente do Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do Estado do Rio Grande do Sul. "Em muitos casos, quando um laticínio não consegue acessar determinada região, empresas concorrentes que têm acesso por vias alternativas assumiram a responsabilidade de coletar o leite," explica Portella.
Além disso, problemas no fornecimento de energia elétrica agravaram a situação, forçando muitos produtores a descartar o leite. Para enfrentar os desafios, medidas emergenciais como a flexibilização das regras para coleta de leite e inspeção de
produtos de origem animal foram solicitadas ao Ministério da Agricultura e à Secretaria da Agricultura do estado.
As perdas vão além da infraestrutura física, afetando ordenhadeiras, tanques e pastagem, com consequências duradouras para os produtores. Neila Avila, produtora de Rolante, exemplifica o impacto devastador das chuvas: "Já chorei tudo que tinha para chorar. Agora, eu e meu marido só pensamos em conseguir comprador para as vacas e mudar de atividade," lamenta após perder pastagens, silagem e ser forçada a descartar mil litros de leite.