G1
A queda nos preços do arroz ocorre por conta de um aumento de mais de 15% na produção brasileira. Mas a pressão de alta da inflação vem do milho e do impacto nas carnes, segundo especialistas. ArrozKseniya Nekrasova/UnsplashAs cotações do arroz ao produtor brasileiro acumulam queda de 20% no ano, indicando que os consumidores devem se beneficiar na hora de comprar o produto nos supermercados. Por outro lado, o milho e o impacto nas carnes devem pressionar por uma alta da inflação, segundo especialistas.Enquanto o arroz em casca é negociado abaixo de R$ 80 a saca de 50 kg no Rio Grande do Sul pela primeira vez desde outubro de 2022, o milho, na praça referencial de Campinas (SP), opera em torno de R$90 a saca de 60 kg. Esse é o maior valor nominal do milho em cerca de três anos, com alta de mais de 23% em 2025, segundo dados do Cepea, da Esalq/USP.A queda nos preços do arroz ocorre por um esperado aumento de mais de 15% na produção brasileira, com boa recuperação na colheita gaúcha, além de uma melhora na oferta global. No caso do milho, o Brasil começou o ano com estoques baixos. Há forte demanda da indústria de etanol e de carnes, além de preocupações com a segunda safra, a maior do país, que ainda precisa contar com o clima nos próximos meses para confirmar as previsões."No caso dos alimentos, um grande ponto de risco (para a inflação) é o milho, principal insumo utilizado na nutrição de aves de corte e postura, além de suínos e bovinos tanto nas criações de corte quanto de leite", afirmou a consultoria Datagro, em avaliação nesta terça-feira (25).Veja também:EUA quase dobram compra de ovos do Brasil e passam a permitir seu consumo por humanosContrabando de ovos supera o de drogas em fronteira entre México e EUAMilho deve influenciar inflação, diz consultoriaA alta do milho está entre os fatores considerados pela consultoria para ver uma inflação acima da meta em 2025 -- de 3,0%, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos --, em um momento em que os preços dos alimentos têm preocupado integrantes do governo sobre o impacto disso na popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).A consultoria citou que os preços do milho em Rondonópolis, umas das referências em Mato Grosso, operavam em meados do mês com alta de mais de 40% sobre o mesmo período do ano passado, para cerca de R$ 85 a saca. É o maior nível desde o início da invasão russa sobre a Ucrânia, no início de 2022.A Datagro afirmou também, utilizando estudos econométricos, que a "aceleração vigente" nas cotações do milho pode impactar a inflação brasileira de alimentos em até 1,07 ponto percentual ao longo dos próximos seis meses, enquanto no índice geral o impacto pode chegar a até 0,47 ponto percentual no mesmo período.O economista do FGV IBRE André Braz, especialista em inflação, afirmou que, se for confirmada a queda dos preços do arroz aos consumidores, isso "vai ser uma boa ajuda" em termos inflacionários.Mas ele destacou que o arroz -- o quinto item alimentício de maior peso no IPCA -- já não vem sendo um vilão dos preços, acumulando variação negativa de 3,99% em 12 meses, enquanto frango em pedaços, contrafilé e carne de porco subiram 10,95%, 21,47% e 20,22%, respectivamente."Mas a questão toda é que o aumento é generalizado. Proteínas, seja carne bovina, suína, de aves, peixe, ovo, pesam mais no índice. Os cereais pesam, mas é mais pelo fato de ser alimento típico", disse Braz."O efeito tem que ser generalizado. Uma andorinha só não faz verão", afirmou ele, referindo-se ao arroz.Previsão de recorde na safra de grãos pode ajudar a baixar o preço dos alimentos? Estoques de arrozCarlos Cogo, sócio-diretor da consultoria Cogo Inteligência em Agronegócio, disse que a tendência de baixa nos preços de arroz "deve persistir nestes meses de colheita no Brasil" e só será interrompida se as exportações começarem a ganhar ritmo, o que ainda não aconteceu.Essa conjuntura atenua o impacto de alimentos para a inflação, disse ele, citando também o feijão como um fator de baixa importante.No caso do arroz, avaliou Cogo, a queda permitirá que o governo volte a recompor estoques, por meio dos Contratos de Opção de Venda (COV) oferecidos pela estatal Conab."A ideia deles (produtores) é aproveitar o afundamento de preços para exercer opções", disse Cogo, estimando, contudo, que o volume que vai para estoques públicos será relativamente pequeno, de cerca de 90 mil toneladas.A Conab tinha orçamento de R$ 1 bilhão para um programa COV de 500 mil toneladas de arroz, mas acabou usando R$ 162 milhões por conta do menor interesse de produtores, segundo dados da estatal - que, na semana passada abriu a possibilidade de o produtor antecipar de agosto para abril o exercício das opções.Cogo também comentou sobre a pressão "altista" do milho, de outro lado, com impacto em "todas cadeias de proteínas", puxando inflação para cima de produtos como frango, carne suína, leite, ovos e bovinos.