G1
A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de elevar novamente a taxa básica de juros, nesta quarta-feira (29), desagradou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Desde o começo do mandato, Lula defende juros mais baixos para estimular o crescimento.Ao elevar a taxa, no entanto, o BC receita um remédio amargo no presidente que pode gerar grandes frutos para o governo: uma inflação baixa em 2026, ano da próxima eleição presidencial.Interlocutores do novo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmam que seria muito pior deixar a inflação pressionada agora, com os preços subindo em pleno ano de eleição – no qual Lula pode se candidatar ao quarto mandato ou tentar fazer um sucessor.Para todo efeito, esses interlocutores lembram que o BC vem fazendo um trabalho técnico. Que, ao fim, pode acabar ajudando Lula politicamente.Copom: entenda os efeitos do 'choque de juros' no crédito e na vida do consumidorCom nova alta da Selic, Brasil segue em 2º no ranking de maiores juros reais do mundo; veja listaCopom mantém alta acelerada e taxa Selic vai a 13,25%Lula já tem maioria no BCEm sua primeira reunião com uma maioria de diretores indicados pelo presidente Lula, o Banco Central fez o esperado, subindo a taxa Selic de 12,25% para 13,25%.Além disso, reafirmou que na segunda reunião do ano, em março, os juros devem subir mais um ponto percentual. E sinalizou que o fim do atual ciclo de aperto monetário (que já dura quatro reuniões) vai depender de a inflação convergir para a meta.Ou seja: o BC indicou que ainda não dá para dizer quando os juros vão parar de subir. E relembrou que a política fiscal tem papel importante neste processo. Até a noite de quarta, o presidente Lula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não comentaram a decisão – ao contrário do que faziam no período de Roberto Campos Neto.Confio que Gabriel Galípolo sabe função do BC, diz HaddadGoverno teme desaceleração da economiaNos bastidores do governo, a decisão gerou insatisfações e receio de que o país tenha uma desaceleração forte em pleno terceiro ano de mandato. Assessores presidenciais chegaram a brincar que, daqui a pouco, o governo corre o risco de ter saudades de Campos Neto – que tanto foi criticado por Lula na primeira metade do governo.A avaliação é que Gabriel Galípolo, para consolidar a credibilidade do Banco Central, estaria sendo muito duro. Interlocutores argumentam que o que é visto como muito duro e conservador agora, no futuro, deve trazer benefícios para o próprio governo – entre eles, um cenário econômico favorável no período eleitoral do próximo ano.